terça-feira, 8 de março de 2011

A INFIEL CONSUETUDINÁRIA



- Deixa-me ai em frente

-Aqui está bom para você?

-Sim

-Vamos nos ver de novo?

-Não sei, pode ser.

-Me liga então, tchau

-Tchau

Desço perto da praça, no centro, e vejo o carro sair lentamente. Sai do motel a poucos minutos, ainda estou com o cabelo molhado. Tenho que aguardar secar. Não pelo meu marido, sim pelas fofoqueiras do condomínio.

Sou uma infiel, me reconheço como quase uma prostituta, quase; pois não cobro para dar prazer e obte-lo. Mal conheci o cara que me deixou aqui e fui para o motel. Meti gostoso durante três horas.

16 anos de casada, dezenas de amantes, ou centenas. Gosto disso, não que o meu marido mereça, longe disso, bom marido, um excelente pai para os meus filhos. Bom até demais.

Eu nasci assim, ou melhor, fizeram-me assim. Nasci nessa cidade, meus pais, avós, bisavós etc. cidade podre, de pessoas podres. Cidade dos antigos barões do café, de negrinhos bastardos, de escravos judiados.

Cidades dos urubus, vejo-os rodeando a praça a procura de carniça. Sinto os olhares deles sobre mim. E nesse momento sinto como se fosse uma carne podre ambulante, eles também, aves negras e agourentas.  

Sentada em frente a Igreja Nossa Senhora de Santana, ainda com os cabelos úmidos. Tem momentos que odeio tudo, filhos, esposos, meus amantes, principalmente após o gozo. Meu marido não, esse não presta para nada, nem para ser odiado.....ou melhor, presta sim; para pagar as contas e principalmente meus gastos supérfluos. Ganha bem, gerente de uma multinacional na cidade. Mete mal.

Tornei-me assim, vazia mentalmente e fisicamente, fisicamente não! Tenho um belo par de coxas, seios firmes. Sinto-me completa por dentro somente ao sentir os líquidos quentes sendo injetados pelos meus amantes.

Filha de pais filhos da puta, tornei-me uma puta sem consciência e podre. Por fora um recipiente admirado por muitos. Por dentro esse vazio intenso, um corpo interno e niilico.

O que dizer de uma criança que aos 10 anos recebeu de madrugada a visita do seu pai em seu quarto. Ele deitou e alisou-me. Conversava no meu ouvido, eu via minha mãe olhar entre a fresta da porta. Dois anos ele tentando, até que fui estuprada por ele com o consentimento da minha mãe. Aos quinze anos já tinha aprendido todo tipo de sacanagem com ele. Para se vingar da minha mãe não deixava meu pai ir para a cama dela. Ameaçava contar para os vizinhos se por acaso ele tivesse algum contato com ela. Vingança pura, pois, adquirir um asco tão grande por ele,  tinha dia que eu fazia vômitos, porém, tinha dias que gostava de dar para ele para sentir os olhares de mágoa da minha mãe. Ela morreu definhada na cama de tanto desgosto. Ela que quis assim. O velho dedo-duro e pedófilo morreu há um ano. Espero que os dois estejam no inferno de Dante e que tenha passado por todas as fazes ruim. E que lá permaneçam por toda a eternidade.

Lembro do meu pai desgraçado contando vantagem de sua traição.

“Hoje entreguei mais um para a ‘gestapo’.

Ele trabalhava em uma empresa e dava-se para a ditadura: uma espécie de “cabo Anselmo”

Nos anos de chumbo no Brasil ele trabalhava em uma grande empresa siderúrgica estatal que fica a 30km dessa cidade. Sua função era infiltrar e anotar tudo. E quem tinha idéia “subversiva” entregava para os investigadores da empresa para tomar a medida necessária para tirar o trabalhador de sua função e prende-lo. Muitas dessas pessoas sumiram da área e da cidade. Inimigos dentro da empresa meu pai não tinham. Ele sempre dava um jeito para que isso não acontecesse.

E quando acabou a ditadura, empresa privatizada, ele permaneceu entregando quem era favor de greves, e quem participava. Meu pai nasceu para ser dedo-duro. Meu bisavô era assim, meu avô trabalhava diretamente com o Filinto Miller, um sujeito ordinário da Ditadura Getulista. E o filho do meu bisa foi um dos responsáveis pela prisão e morte do escravo Manuel Congo. Está no sangue a sina de filhos das putas. E eu não fugi muito dessa regra quase consuetudinária. Essas lembranças são constantes em minha vida.

Eu traio a mim mesmo, meu marido e meus filhos. Sou infiel com prazer. Sinto o alvoroçar dos meus cachos louros, já estão secos. Vou andando bem devagar em direção do meu apartamento. Na portaria vejo um sorriso cínico do porteiro, deve ser impressão. No elevador a velha fofoqueira do local.

-Boa tarde dona Laila,  a senhora madrugou.

-Foi preciso- Disse-lhe. Fui educada.

Minha vontade era dizer para ela: por que a senhora não vai da esse seu cu gordo, velha fofoqueira. Ah! Um dia vou dizer isso a ela.

Já em casa, meus filhos devem estar na piscina do condomínio, normal para um domingo de tarde.

No quarto, meu marido corno tirando uma sesta.

Olho para aquela carne fofa e gordurosa. Nojo? Não tenho, já me acostumei. Chego na janela e olho para baixo, ao longe, à Igreja Nossa Senhora de Santana. Os urubus descarnam prazerosamente um cachorro podre dentro do Rio Paraíba do Sul.


Kaká de Souza

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Margarida Maria Mazza

Meu vazio


Da aridez do meu peito
Saudoso, mesmo de dores,
Brota a incrédula pergunta;
Que foi feito dos amores?

Dos amores que eram rimas,
Dos amores que eram festas,
Dos amores que eram chamas:
O que em mim hoje resta?

Murmura o mar: sabedoria,
Sussurra o ar: experiência,
Mas que estranhas palavras
Para definir ausência!

Foram-se prantos aos rios,
Foram-se sonhos aos bandos,
Após acenos crus e frios,
Sem que eu percebesse
Onde e quando...


Desvario

Tudo é triste aqui dentro
Pois o amor se faz distante
De quem eu fiz minha vida
Já não posso ser amante;

Tudo é triste lá fora,
Pois meus olhos a chorar
Eu não me animo a erguer
Para alguém cumprimentar;

E a tristeza em diabruras,
Em seus deboches sem fim,
Envolve os maus espíritos
Que fazem troça de mim;

E eu rio sem parar,
Rio sem saber porque;
Rio dos meus desvarios,
Do meu jeito de sofrer;

Há riso em mim e não choro
Porque hoje decidi
Que mesmo por desaforo
Todo o tempo vou sorrir.

Margarida Maria Mazza


Dádiva divina

Rompendo a densa treva
Que envolve a vida em mudez,
Uma luz a ti me traz
Com tamanha nitidez,
Que, fundindo nossas almas,
Faz pertencer-nos outra vez;

E agora, para sempre:
Sem o denso nevoeiro
Que salpicava de abismos
Nossos encontros primeiros;

E agora para sempre;
Sem mais a dúvida insana;
A mão que a ti me entrega,
É de que jamais engana;

Não mais ciúme infundado,
Não mais brigas infantis:
Apenas o amor sonhado,
O paraíso que se quis.

Margarida Maria Mazza

Busca e miragem


Mal rompia madrugada
Em meio ao frio: tiritante
Eu, a busca iniciava
De ti, fugitivo amante;

Cruzava montanhas, vales
Como os cabelos, orvalhados
E d’outro tipo de orvalho
Sentia os olhos molhados;

Era a luz dos pirilampos,
Se a luz se escondia
Que vaga idéia me dava
Do rumo que eu seguia;

“Fugiste de medo, Anjo?
Medo de amor que querias?”
E a pergunta ecoava
Inútil, na noite fria;

Entre um soluço e outro,
Um sorriso me acudia,
E numa miragem louca
Era teu rosto que eu via;

Entardeceu e ouvi:
“Volta, a sua busca é vã!”
Mas eu te driblo razão,
Pois recomeço amanhã;

Vencida pelo cansaço,
Fechando os olhos, senti
O envolver dos teus braços:
Ali mesmo adormeci.

Margarida Maria Mazza


domingo, 28 de novembro de 2010

O Falso Amigo




 
PRIMEIRA PARTE: Seu pai antes de morrer disse-lhe: tu agora és o homem da casa. Disse para um garoto de 10 anos. Se ele soubesse, garanto que ele não faria isso, pois isso acarretou uma formação deturpada na mente do garoto Toninho, suas falhas mesmo não querendo falhar, ocorreu, acredito eu, devido a responsabilidade atribuída a ele por um pai no leito da morte.

Toninho cresceu tentando tomar conta da mãe e das duas irmãs, não precisava, pois, a mãe trabalhava e conseguia manter o sustento familiar, todavia, ele queria mais, achava que a mãe não deveria trabalhar, cresceu assim, e assim se tornou. Frustrado por não conseguir algo melhor. Entrou na Escola* e dela foi parar na Usina*

Era um rapaz brincalhão, mente perturbada, mais inteligente. Trabalhador, estava indo bem em sua atribuição dentro da empresa e familiar. As irmãs cresceram. Sua mãe trabalhava e o ajudava nas contas da casa. Sua progenitora era uma mulata muito bonita, jovem e viúva, ele não aceitava que a mãe arrumasse alguém. Era ciumento. Talvez até o complexo de Édipo fazia parte do seu imaginário, sei lá, pode até ser.

 Ele chegou de mansinho e se tornou chefe dele, do Toninho. Agora acho que foi ao contrário, Toninho tornou-se seu subordinado. JB* chegou bem devagar e disse para o rapaz:

“Vou para o lado de sua casa, quer uma carona?”

Aceitou é claro, sabia que o chefe morava a duas quadras de sua casa e não gastaria dinheiro para a passagem. E JB* fazia parte do escalão da empresa, poderia levar alguma vantagem com isso, pensou. Andar com o chefe poderia ter ganhos futuro, disse-me. Eu ri. Fazer o quê? Outro puxa-saco de plantão. Pensei

Só tinha um fator ai que poderia ou não modificar a vida do Toninho. JB* tinha vinte e cincos anos de empresa, e era sabido por todos em nossa área que na saída do turno ele parava nos trailers em frente da Usina* e tomava umas cachacinhas antes de ir para casa. Toninho ficou aguardando, JB* tomou uma pinga, duas.... e Toninho a sua espera.

SEGUNDA PARTE: E os dias seguintes foram as mesmas coisas, nos primeiros dias Toninho tomou um guaraná. Todavia o ‘diabo’ atenta, nesse caso o demônio seria o JB*. Quando Toninho se deu conta estava bebericando uma cachacinha, uma cerveja e uma branquinha, assim sucessivamente.

Na verdade o que JB* estava fazendo era cevar o pobre do Toninho. Queria comer a gostosa da viúva, a mãe do garoto.

O costume da bebida era bem aceito pelo organismo de JB*, pois, há anos que ele fazia isso. Para Toninho era uma heteroagressão em seu organismo. Tornou-se alcoólatra. Não ficava mais sem a cevada e o álcool.

Se JB* comeu a viúva? Não sei, havia boatos que sim. Entretanto não posso confirmar. JB* ao ver que Toninho tinha-se transformado em um problema para a sua administração, o transferiu para outro turno. Sua covardia era tanto que não tomou medida nenhuma a respeito do alcoolismo do rapaz, o qual ele tinha transformado em um ser indesejado para a sociedade.

Chegou ao ponto do Toninho chegar bêbado no serviço e machucar-se na execução de uma tarefa. Não conseguia ficar mais sem a bebida, tanto em casa, quanto no trabalho. Foi demitido. JB*? O responsável? Não fez nada para ajudá-lo. Omitiu-se de tal forma que até mesmo eu e alguns companheiros ficamos com vergonha.

Claro que havia como JB* ajudá-lo, pois, a empresa tinha convênios com clínicas que cuidava de dependentes de drogas e álcool, ele como chefe poderia ter arrumado uma vaga para o Toninho e encaminhá-lo para umas delas, não o fez.

 TERCEIRA PARTE: O rapaz foi para a rua e não conseguiu parar de beber. Saiu de casa e foi morar nas ruas da cidade. Virou um pedinte e sem teto. Destituído mentalmente, enlouquecera, pegava bingas de cigarro no chão. Vivia pedindo para alguém lhe pagar uma dose de pinga. Hoje, mais de vinte anos do acontecido, quase nada mudaram em sua vida, quarenta anos com a aparência de setenta, cabelos totalmente brancos, roupas rasgada e agora catando latinhas de cerveja e garrafa pet nas lixeiras da cidade para sobreviver. Eu o vi na semana passada remexendo nas lixeiras da cidade, olhou dentro dos meus olhos, não enxergou nada, eu sim, minha vergonha de ter presenciado sua destruição e não ter podido fazer nada.

JB* logo após o rapaz ser demitido aposentou-se e muito bem, tornou-se um homem de “posses”. Aposentadoria alta. Filhos bem formados. Está velho, mas bem fisicamente, continua tomando sua pinguinha diária. Eu vi ele semana passada, cumprimentou-me com um sorriso inocente, eu retribuí com um sorriso amarelo, de culpa.

 kaka de Souza


Fim



quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O EX-HÉTERO







PRIMEIRA PARTE: Parece estranho esse nome acima, todavia, não sei como da um nome que se aproxima melhor que vou narrar, poderia ser o dia que Dido perdeu o caba.....ou, perdeu o esfinc....ou pode ser as preg.....não, vou colocar no meu blog e como é sabido as crianças pode abri-lo e ver palavrões, não, vou deixar como está.

Tem certas coisas que acontecem em sua vida que é difícil esquecer, o tempo pode passar, mas as imagens e os fatos marcam. As memórias ficam. Por que estou dizendo isso? Bem Dido trabalhava há muitos tempos na oficina a qual prestava manutenção para a empresa  que trabalhávamos. Ele gostava muito, muito mesmo de álcool misturado com cerveja ou não misturado, não é eufemismo, para ser bem claro tudo que contivesse teor alcoólico era do seu gosto. Coisa normal, pois, a nossa turma gostava de sair no final do expediente e encher a cara em bares, ou trailer na entrada da usina. Estou dando volta de novo, fugindo do assunto principal.

Ser pensar ou querer ser falso, ou até mesmo o medo de retaliação, vou emitir nomes dos envolvidos nesse fato, porém, devo contar, minha língua coça, minha caneta treme em minhas mãos, tenho que narrar. Estou parecendo aquelas velhas fofoqueiras diante de algo para ser espalhado.

Certo dia chegou uns estagiários da Escola* para a oficina, entre eles veio o Doçura, apelido sarcástico dado a ele pela nossa turma de trabalho, ele aceitou semelhante apelido. Ah! Doçura por quê? Sendo ele um rapaz educado, e até mesmo delicado, deram-no o apelido. O rapaz era um excelente profissional, trabalhador, assim era reconhecido. Quando terminou o estágio foi prontamente admitido como mais mecânico da oficina para atender as manutenções na Usina*. Alguns de nós sabíamos que doçura era homossexual assumido fora do ambiente de trabalho. Dentro dela, ele tentava disfarçar-se, pois, o preconceito entre a chefia arcaica era enorme e poderia tomar medidas duras contra o rapaz: demiti-lo. A carcaça do jumento no piso agia. A rapaziada da área não estava nem ai para a sua preferência sexual, zoar, brincar com a sua preferência era normal para nós, sem que houvesse entre a turma a homofobia. Ainda mais no vestiário a vê-lo nu, pele lisa igual a um bebe, a rapaziada zoava muito dele. Ele? Nem ai, e dizia, eu raspo o corpo mesmo, ninguém tem nada com isso.

SEGUNDA PARTE:O tempo passou, para alguns companheiros a comprovação da homossexualidade de Doçura, o rapaz gostava de outro tipo de fruta. E Jaílto, um companheiro de Barra Mansa recebia na madrugada; quando no turno, o carinho de Doçura, ele e mais uns três, todos jovens e solteiro, o boquete era o principal carinho lúdico dele dedicado aos ‘escolhidos.’ Eu? Era casado e feio para ele, não fiz conta disso, pois, essa relação nunca foi a minha praia, que fique bem claro que não tenho nada contra. Cada um, com seu cada um, penso assim, minha filosofia de vida. Infelizmente devo contar que a vida de Doçura dentro do departamento não era só flores, foi estuprado pelo Furúnculo, nome estranho, mas isso que ele é, e continua ser. Ele queria por que queria comer o garoto, entretanto, ele era casado e mau-caráter, Doçura não quis nada com ele. Um dia de madrugada Furúnculo o agarrou no banheiro, o espancou e cometeu o ato absurdo de conseguir a força aquilo que lhe foi negado. Era assim no turno da noite: Doçura tinha que fugir da infecção e manter seus contatos íntimos com quem ele se sentia bem. Sabíamos da violência, mas todos nos tínhamos medo de tal infecção social.


TERCEIRA PARTE: A discrição do rapaz fez com que ele permanecesse longe de perseguição da chefia por uma longa data, desconfiavam, mas não tinham prova, e quem tinha, não fazia a mínima questão de contar para eles.

Dei volta para chegar até aqui; no Dido, o qual fazia parte do nosso grupo, feio e casado fazia de tudo para ter um; como posso dizer: um flerte mais profundo com rapaz, Doçura não estava nem ai para ele, mas que ele tentava, isso tentava! E certo dia, no mês de Dezembro em uma comemoração no Bar Sider. que não lembro de que, o qual. Estávamos bêbados, tínhamos tomado todas até altas horas da noite, Dido cismou que iria dormir na quitinete do Doçura.

Devo lembrar que o tempo tinha passado e todos já sabiam da preferência do rapaz, já não escondia mais para ninguém, entretanto, quando o pai ficou sabendo que o filho era homossexual, o expulsou de casa. Ele arrumou uma quitinete afastado do centro da cidade, e era exatamente nesse lugar que Dido queria ir com o Doçura. E foram.

No outro dia a fofoca estava feita dentro do departamento, e como todos boatos podia ter um fundo de verdade, e como vimos na mesa do bar no dia anterior, tinha uma grande possibilidade de ser. Dido com a intenção de pegar o Doçura, aconteceu o contrário, ele que foi pego firmemente, foi “comido.” Adivinha quem espalhou o boato? Doçura, eles bêbados, o mal-intencionado dormiu de bunda para cima e embriagado, ai Doçura disse-nos cinicamente que ele foi obrigado a fazer o “serviço” no Dido.

Acreditamos, pois, Dido depois do acontecimento andava com extrema dificuldade de dentro da oficina. O nosso dia foi rir e comentar sobre o acontecido, pois, por nós era sabido que o rapaz era invejado por alguns, isso, devido ele ser bem dotado, sendo que uns até diziam maldosamente: como um guey pode ter uma ‘coisa’ desse tamanho? Isso é uma dicotomia de Deus! Exclamavam. 

QUARTA PARTE: Após esses acontecimentos Dido se transformou naquilo que víamos ocorrer durante algum tempo, tornou-se alcoólatra agressivo no ambiente de trabalho e fora dele. Chegou ao ponto de chegar na oficina cambaleando de tão bêbado. Como ele tinha um irmão que fazia parte da cúpula da chefia, conseguiram que ele fosse internado em uma clinica de recuperação. Meses depois ele saiu da clinica e assumiu seu lugar na oficina. E não demorou que o vício vencesse, pois, chegou bêbado e agrediu um companheiro de serviço. Foi demitido, não ganhou justa causa devido seu irmão que intercedeu. Andou um bom tempo pelas ruas da cidade bêbado, dormindo pelas calçadas.

E o Doçura? Bem, saiu da empresa e foi trabalhar em uma boate da cidade. Isso que me contaram, não fui conferir a veracidade.

Moral da História? Tem muitas, deixo para quem queira pensar nessa ‘moral’.




Kaka de Souza



FIM

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

OLHOS SUJOS







Está vendo esses olhos sujos? Sim, sujos devido a miséria apresentada a mim ao nascer. Noites com o meu vício, sim com oito anos me viciaram. Vício que entrou em minha vida e não consegui largar até hoje:

Como começou? Eu conto. Começou com gibis, tio patinhas, Donald, todas as obras Disney. Zorro e seu parceiro Tonto, Fantasma,etc. Depois com livro de bolso de faroeste, de espionagem, revistas caprichos e suas novelas. Os livros de bolso Coyote, FBI. Revistas velhas achadas no lixo. O meu contato aos dez anos Com Augusto dos Anjos, livro que encontrei o Eu rasgado, parecia pedir para eu catá-lo entre o lixo da casa de uma família de “ bacana”.


Ah! minha coleção das revistas SELEÇÕES DO READER’S DIGEST. Achei- as no lixo.

Com oito anos eu não sabia as operações mais simples de matemática, somar, dividir e muitos menos multiplicar.

Com oito anos eu não conhecia vírgula, ponto, e muitos menos parágrafos. Mas recebi o dom de conhecer as letras e juntá-las.

Está vendo estes olhos sujos? Olha bem. Sim, o meio encontrado por mim para fugir da miséria era ler e penetrar no mundo das palavras.

Está vendo esses olhos sujos? Adquiri-os com  fumaças de lampiões de querosene enquanto lia meus gibis e livros de bolso durante a noite, fugia, fugia.........sai de casa aos quatorze, em uma fuga desesperada da sovinice da vida.


Caca Alves

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Exploradores Emocionais





-Toma aí. Ouço: e uma caneta é jogada em cima do meu colo, exatamente sobre o jornal que eu estava lendo. Levantei a cabeça, e olhei furioso em direção a quem fez. Meu olhar foi em direção a quem tinha jogado o objeto: um rapaz de toca vermelha na cabeça. Era ele, o vendedor de canetinhas vagabundas as quais eram enroladas em um plástico e que se achava no direito de atrapalhar o meu sossego. Digo que isso não é a primeira vez que me acontecem dentro do ônibus, meu transporte preferido. E após jogar as canetas nos colos dos restantes dos passageiros ele vai para o corredor ao lado do motorista, e começa o seu discurso:

“Senhores, eu podia estar vendendo drogas, roubando ou matando, mas não, por isso estou aqui vendendo essas canetas para não precisar fazer nada disso, eu sei que vocês têm deus em seus corações”

Para mim, essas palavras soam como uma ameaça a minha integridade física, algo que poderia acontecer caso eu e os passageiros não comprem seus objetos.

Continuou:

“Eu vendo essas canetas para sustentar a minha família, por apenas um real você leva uma. Aceito moedas, passes escolares, quaisquer coisas que vocês possam dar para ajudar eu aceito”

E tem muitos outros indivíduos que usam as mesmas palavras decoradas e só mudam o objeto que eles estão tentando empurrar. Muitos têm a cara-de-pau em dizer que as ajudas (vendas) são para instituições que cuida de pessoas com AIDS, e somando com outros que entram nos ônibus com doces dizendo as mesmas decorações.

Esses indivíduos falam com tanta firmeza nos olhares e com uma entonação na voz tão séria que muitas pessoas tiram do seu bolso um real ou mais e entrega para os sujeitos os quais vem pelo corredor do busão recolhendo o dinheiro ou as canetas. Os que devolvem os objetos são os que não foram convencidos pelas suas palavras ou até mesmo não têm o dinheiro. Quando ele se aproxima de mim e recebe a caneta (ou outro objeto) de volta vejo em seu olhar a raiva da minha negação. E também de alguns passageiros. Não ligo. Não dou nada, nem o meu sorriso. Alguém deve pensar: que sujeito pão-duro!

Sim, sou pão-duro em minha condição de não saber quem precisa ou quem explora os bons sentimentos das pessoas nos coletivos. Sabe o porquê? Eu digo.

Alguns desses exploradores que chega até colocar ameaças em suas vozes na sua empurração desses produtos, achando que nós somos os responsáveis pela sua condição de falência individual, e digo mais, muitos desses indivíduos estão com excelente saúde, alguns parecendo frequentadores assíduos de academias de musculações.

Certo dia  presenciei um desse sujeitos dizer horrores para uma senhora que tinha-se negado a comprar-lhe uma caneta fajuta, ela tinha reclamado com razão sobre o objeto, e disse para o individuo:

“Essas canetas não prestam para nada, não escreve nem dez linhas e acaba a tinta”

Essas palavras foram o suficiente para ela ser agredida verbalmente. Não foi fisicamente por que os passageiros interviram.

Relato para reforçar minha usura emocional a respeito da mendicância relatada acima e abaixo. Certo dia entrei em uma loja para comprar sapato, eu reconheci um desses indivíduos comprando um tênis de 300 reais, fiquei espantado com tamanha falta de respeito, por isso meu pão-durismo aumentou mais ainda.

E tem mais:  

Um sábado no centro da cidade encontrei dois amigos também  professores como eu, fomos tomar uma cerveja e bater papos. Horas foram se passando. E um rapaz chegou na mesa e pediu para nos pagarmos uma quentinha para ele, um dos companheiros levantou da mesa e foi até ao garçom e mandou-o servir o rapaz. 10 Minutos depois, outro rapaz, o mesmo colega pagou-lhe a quentinha.

E como um imã, a nossa mesa atraiu mais uns 6 seis pedintes, achei um absurdo, pois, enquanto professores ganhamos poucos, trabalhamos muito, e na hora da nossa cervejinha acontece isso devido a boa vontade do nosso amigo. Metemos-lhes um esporro dizendo-lhe:   

“Todos que chegaram em nossa mesa para pedir estavam em plena saúde, e é nossa obrigação sustentá-los?”

Nosso amigo não gostou dessas duras palavras seguidas de uns sermões. Mas, tem certas pessoas que têm de ser chamada para a realidade.

É muito fácil pedir. Tomei o conhecimento que uma senhora tem diversas casas na cidade, tudo construída com dinheiro esmolado durante anos. Fui ao local para conferir e vi fisicamente as casas e a mendiga que eu já conhecia nas ruas da cidade.
 
Isso não quer dizer que eu não ajudo. Ajudo sim, grupos que fazem trabalho reconhecidamente sério em pró dos necessitados. Mas, dá esmola? Não faço mais isso. Não aceito ser explorado na minha condição de cidadão.  



Caca Alves

domingo, 24 de outubro de 2010

CHUMBINHO E A BICICLETA

1970, tínhamos acabado de ganhar a copa. Éramos um bando de garotos felizes em nossas criancices. Tínhamos entre 9 e 11 anos. A nossa preocupação era pegar frutas nos sítios dos vizinhos, caçar passarinho, nadar no Rio Barra Mansa e pescar. Ah! Pular do pontilhão na represa no rio. Hoje não existe mais a beleza, ele, o rio, o apodrecemos. Há 40 anos, que coisa mais linda era o seu leito. Eu, Chumbinho, Paulinho, Tiziu e Neguinho morávamos no final do Bairro Santa Clara, Barra Mansa, RJ. Onde é a garagem do ônibus Collitur. Brincávamos muito de arco, que era um retentor de óleo usado nos ônibus. Os mecânicos da empresa, após a manutenção nos ônibus jogava-os fora e nós pegávamos. Um gancho e um arco, pronto, as molecadas disputavam quem ficava mais tempo rodando o retentor no chão com um gancho de arame. Nossas bolinhas de gudes, soltar pipas. Coisa normal das crianças da década de 70.

Já-me-ia esquecendo! Pescávamos com varas e anzol, contudo gostávamos mais de pegar o peixe na toca. Enfiávamos as mãos dentro de uma toca de pedra no leito do rio e puxávamos o peixe. Saudades disso, saudades do rio Barra Mansa, um rio generoso. Lembro-me que nas pedras grandes na beira do seu leito e com tocas, vibrávamos, principalmente o Chumbinho. Cercávamos os buracos em volta da pedra, não deixando a água entrar ou sair. Então, batíamos uma pita na pedra e o suco escorria para dentro da água em volta da pedra cercada por nós, o suco da pita tirava o oxigênio. Os bagres, carás, cascudos e traíras pulavam tentando respirar, fazíamos a festa.

Um mês após o Brasil tornar-se tri, Chumbinho ganhou uma bicicleta de presente. Uma bicicleta! Tudo que uma criança da época sonhava. Chumbinho vibrava com o brinquedo novo. E com razão.

Memórias! Infelizmente, aquela bicicleta foi a causa de sua morte. Chumbinho pegou o seu presente e saiu do final de Santa Clara, e já Rodovia Saturnino Braga agarrou na carroceria de um caminhão, andou segurando por 2 km até na entrada do bairro Goiabal, município de Barra Mansa, faltando poucos metros da Litográfica S.A, ele se desequilibrou. Chumbinho e a bicicleta foram parar debaixo da carreta. O nosso amigo foi esmagado por inteiro. Nossa, que desolação no bairro naqueles dias. Naquele tempo, apesar de ter apenas 10 anos de idade eu já conhecia o poder da morte, pois, já tinha perdido irmãos e amigos estupidamente. Na época, lembro-me, chorei diante da morte outra vez. Não pense que escrevo isso somente por escrever. Escrevo e descrevo em uma tentativa para “matar” os fantasmas que me assombram durante anos.

Kaká de Souza